"...no desalinho triste das minhas emoções confusas..."






22/10/2012

Caminhante noturna

"Não há caminhos a serem seguidos. Nunca houve...", apregoava a aranha, ao passo que alongava suas patas. Bocejou, o sol ainda não raiava. Era um dia não tão belo e não tão feio, chamemos de um dia comum. Estávamos num vale verde, daqueles bem verdes e bem floridos. A lua fazia manha, dançava seu grande final, enquanto as estrelas se escondiam por detrás de nuvens acinzentadas. Eu de olhos fechados e a aranha com suas vaidades noturnas. Lembro-os: eu numa cama, no vale do meu sono; ela no vale físico, sonhada mas não inventada (ela era real, até mais que eu).
- E de quais caminhos estamos falando? - perguntei depois de um grande espaço de tempo.
- De todos... e de nenhum! 
- Hã?
- Oras, os caminhos... Você sabe, o da fila do pão que a trouxe aqui, os invisíveis que te mostram escolhas, os do futuro...
- Mas eles existem! - disse quase como que um grito. Nós cresciam em minha mente adormecida, estava acordada.
- Não, não diga um absurdo desses, minha querida. - soltou um riso, que como de costume me aborrecia. - Tudo é nada e o caminho não fica fora disso. O que temos são as setas, o Norte e o Sul, o certo e o errado; O que existe - o que "existe" -, é a mutação, é o ciclo que se torna mais infinito, é o pensamento e as ondas sonoras. O que existe mesmo é a imaginação, qual a sua criou a ti e a todos, inclusive a mim. Os "caminhos" são os sentidos e os sentimentos, são os ipês amarelos e a morte-imortal. Querida, não se iluda com os caminhos da pegada reta, da pegada que é certa... Não se iluda com o "caminho da felicidade" ou com o "caminho do paraíso"; se iluda com a utopia e com o ato de caminhar (na mente e na estrada).
- Mas...
- Se iluda com o "mas" também! Eu digo, seja e saiba e sinta as milhões de faces de uma faceta.
- Bem, não sei... Estou confusa!
- Sim, não saiba! E confunda-se e adentre ao caos... E aproveite a dança e pise na virtude.
- Acho que não sei dançar. - bufei.
- Não se preocupe com isso - sussurrou e se calou. Após ver vestígios do surgimento de um fogo, continuou. - Já amanhece, minha querida...
- Bem, então acho que vou indo. Bom te reencontrar! - disse admirada com a lua que se ia e não só refletia como parecia com seus olhos.
- Adeus, querida criança. Tenha lindos sonhos!

3 comentários:

  1. Você escreve tão bem e sua criatividade é tanta que dói hjkhdfjdsh :)

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  2. Ahhh, obrigada! Mesmo! Tem outro da aranha, meio que a apresentação dela - não tendo esse como foco -, já leu?

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  3. Sim, já li e devo dizer que é um dos meus favoritos já escrito por você :)

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