"...no desalinho triste das minhas emoções confusas..."






14/06/2011

LESTE: OS PLÁTANOS.

"Os românticos e sonhadores, esses que imaginam vidas vagamente inglesas, de paixões contidas, silêncios demorados e gestos escassos mas repletos de significados, preferem a estrada do leste. Ela vai subindo da cidade em tantas curvas que as pessoas são obrigadas a diminuir a velocidade, tanto faz que andem a pé, a cavalo, de automóvel ou bicicleta, até chegarem ofegantes na alameda de plátanos. Lá, onde já não existem casas, fora um ou outro rancho perdido no campo entre capões de eucaliptos, a estrada começa seu caminho em direção a Porto Alegre. Os plátanos são muito altos, dos dois lados da estrada, e as folhas superiores, de ambos os lados, quase chegam a se misturar, formando uma espécie de túnel - que mesmo antes do filme com Doris Day, grande sucesso do Cine Cruzeiro do Sul, ganhou o nome de Túnel do Amor. No final de maio, a luz do sol deitando no horizonte oposto bate oblíqua nas folhas douradas e vermelhas caídas no chão e nas que ainda restam nos galhos cada vez mais descarnados para revestir inteiro de ouro o Túnel do Amor. Forra-se de prata também, nas noites de lua cheia, principalmente as de Câncer, Leão ou Virgem, em pleno verão, quando as árvores já recuperam as folhas e, no auge do verdor, preparam-se para perdê-las outra vez. Novamente entrelaçadas nas copas altas, dispondo sombras, noite alta elas conspiram a favor daqueles namoros considerados fortes e de certas amizades estranhas, como aquela que durante anos uniu..."
Ovelhas Negras, Caio Fernando Abreu

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