"...no desalinho triste das minhas emoções confusas..."






03/08/2011

que nada é pra já."

- A primeira opção. – respondi seca, como se fosse óbvio. Nada indaguei.
- A vida é muito incerta para ser levada levianamente. – disse-me presunçosa, alongando uma de suas patas – Buscamos, buscamos, buscamos e quando finalmente achamos, descobrimos que não era tudo aquilo que procurávamos. Aí vem a angustia da falsa realidade. E ficamos assim, em dias melancólicos, até novamente acharmos algo para buscarmos. Não pode ser assim, pois no espaço entre o procurar e o buscar esse algo, a vida acontece. E nunca se sabe quando irá de partir...
- Mas é isso que nos faz existir. Buscarmos algo que nos dê sentido a vida...– disse emburrada com a colocação da aranha.
- Mas não é porque você existe, minha querida, que você vive. – e então fiquei quieta. Me senti envergonhada por simplesmente... Existir. Me senti pequena, diminuída, miúda.
- Por que te calas? – sua voz suave, quase inexistente, perfurou meu silêncio. Não sei se estava pensando, não me lembro.
- É que de repente tudo não parece mais ser.
- Mas não fique assim, oras. Tudo é, mesmo que de uma forma utópica.
- Mas eu não quero apenas existir. E agora estou confusa quanto a isso: se vivo ou não.
- Lhe contarei a mais bela verdade que existe. E quando você se permitir a acreditar verdadeiramente nela, você estará livre das correntes do “existir”. – disse com cuidado, para que fosse possível seus olhos enxergarem as palavras adentrando meus tímpanos.
- Pois diga logo, isso está me queimando por dentro... – estava impaciente. Meus ossos viraram vidro e podiam sucumbir a qualquer  momento.
- A vida é alma. E quando você pára de simplesmente procurar motivos para existir, você passa a viver. E então você está livre de tudo. Sua alma desgruda do seu corpo e passa a ser seu estado de espírito. - fechei os olhos, sem querer o fazer.
Não sei quanto tempo permaneci de olhos fechados, mas após um tempo, que também não o sei, senti adentrar a narina cheiro de pão fresco. Dei uns passos e encontrei a padaria. Embora não houvesse ideia de como havia voltado para onde devia estar, fiz o que devia fazer. Comprei o pão com as moedas que estavam dentro do bolso e tentei me concentrar no caminho de volta.
- Foi tão rápida que o pão está ainda quente. – disse vovó e disfarcei o embaralhamento de meus pensamentos com um belo sorriso quase sincero. Mas vovó sempre soube me conhecer. - Que houve, querida?
Não respondi. Seja por distração ou vaidade, apenas me calei. Sorri um sorriso fino - desta vez sincero – e saí para meu quarto. "Bem... A vida aconteceu."

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